Seminário ‘Reage, Rio!’ debate conceito de cidade inteligente

Seminário ‘Reage, Rio!’ debate conceito de cidade inteligente

Seminário ‘Reage, Rio!’ debate conceito de cidade inteligente

Empreendedorismo e tecnologia são temas desta terceira edição, que pode ser acompanhada pela internet

 

POR MARCELA SOROSINI E MARCELLO CORRÊA

O que são cidades inteligentes? Respostas para essa pergunta estarão em debate hoje, durante a terceira edição do seminário “Reage, Rio!”. O evento reúne especialistas para discutir soluções inovadoras para a cidade e o estado. As inscrições estão encerradas, mas é possível acompanhar tudo pelos sites do GLOBO e do “Extra”.

 

EMPREENDEDORISMO E TECNOLOGIA

No seminário, com patrocínio da Oi e apoio institucional da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, serão analisados cases de sucesso como o Meu Rio, uma rede de mobilização da sociedade civil que busca influenciar decisões de políticas públicas e fiscalizar o trabalho de representantes da população no governo. Miguel Lago, cofundador da iniciativa e diretor-presidente do Nossas Cidades, rede que engloba iniciativas semelhantes em outras regiões (como Recife e São Paulo), acredita que o conceito de cidade inteligente passa justamente pela capacidade do cidadão comum de participar mais das ações do Estado. Na avaliação dele, a conversa vai além da instalação de câmeras de monitoramento, uma ideia normalmente associada ao conceito.

— Acho muito importante a gente discutir essa questão de cidade inteligente de maneira ampla. Precisamos ter noção de que o uso da tecnologia não pode estar disponível só para o Estado controlar o cidadão, mas para o cidadão controlar o Estado. Se só for o cidadão fornecendo dados para o governo, você vai tendo uma invasão cada vez maior da privacidade dos cidadãos e maior controle. O fundamental é que se consiga um equilíbrio — destaca Lago.

Para o especialista, é o momento de o Rio discutir tecnologia, outro tema na pauta do encontro de hoje.

— O Rio de Janeiro tem muito a fazer no uso de tecnologia para melhorar a ação pública de maneira geral, seja pelo Estado, seja pelo cidadão — observa Lago, lembrando que é importante ter no radar soluções da sociedade civil e da iniciativa privada.

Uma cidade inteligente também é aquela na qual o desenvolvimento sustentável se faz presente. Por isso, um dos painéis do encontro será dedicado a esse tema. Ex-presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, o arquiteto e urbanista Washington Fajardo é um dos debatedores da mesa. Para ele, a discussão passa por soluções para políticas habitacionais e de mobilidade urbana:

— O Rio, assim como cidades de todo o Brasil, está muito atrasado nesses aspectos. Do ponto de vista de novas tecnologias, também é preciso entender os avanços que o mundo desenvolvido está tendo nessa área. A tecnologia já mudou as relações sociais, de consumo e de trabalho, e vai mudar as cidades.

 

MOMENTO OPORTUNO PARA DISCUSSÕES

Fajardo acrescenta que esse tipo de discussão é ainda mais importante em período eleitoral, ainda que o pleito deste ano não seja para preenchimento de cargos municipais.
— Obviamente, as prefeituras têm a maior responsabilidade nessa esfera, mas políticas federais também são necessárias. Da mesma forma, há muitos desafios agudos para o futuro governador na Região Metropolitana fluminense. Esse tipo de debate, como o “Reage, Rio!”, é importante para reunir a sociedade civil, porque, no dia a dia, ricos e pobres conhecem e passam pelos problemas urbanos nas cidades brasileiras — destaca o arquiteto e urbanista.

Sérgio Magalhães, presidente do Instituto de Arquiteto do Brasil (IAB), também participará do debate. Ele acrescenta que a cidade precisa ser amplamente discutida:

— Encontros que levantem questões e que ajudem a formular consensos são muito bem-vindos. O tema urbano em suas inúmeras dimensões precisa ser discutido. Não dá para tratar de apenas um assunto porque todos estão interligados. A questão da violência, por exemplo, tem muito a ver com o mau tratamento da cidade e da existência de territórios urbanos abandonados. A violência não é uma questão meramente policial, mas também urbanística, porque os territórios são ocupados por gangues e afetados por serviços públicos escassos e falta de infraestrutura.

 

RIO É UM BERÇO UNIVERSITÁRIO

Centros universitários de ponta, busca de saídas para uma cidade que enfrenta uma crise econômica e perspectiva de retomada do crescimento. Esses são alguns dos fatores que, na avaliação de especialistas, fazem do Rio um celeiro de startups. Somente nos últimos cinco anos, 127 negócios foram acelerados pelo programa Startup Rio, uma iniciativa público-privada idealizada pelo governo do estado. Desse total, 90 deram origem a empresas. Saúde, internet das coisas (“IoT”, na sigla em inglês) educação e games são algumas das áreas que se destacam. O quarto edital do programa será lançado este mês. Até 50 projetos poderão receber R$ 96 mil para o desenvolvimento de ideias, além de treinamento e capacitação por um ano. Incentivar a inovação e soluções tecnológicas é um dos temas que serão abordados no “Reage, Rio!”, evento que acontece hoje em Ipanema.

O economista e subsecretário estadual de Pesquisa, Ciência e Tecnologia, Augusto Raupp, diz que empresas inovadoras podem se destacar em áreas como biotecnologia, com aplicações em desenvolvimento animal e agronegócio:

— O Rio tem muitas competências em áreas tecnológicas que ficam dentro do ambiente das universidades, não chegam ao mercado. Queremos mudar isso. Temos de fazer a economia funcionar em novos segmentos, não podemos ficar tão dependentes dos setores de óleo e gás. São áreas que temos muitas competências, principalmente pela presença da Fiocruz, além da UFRJ e Uerj. Um outro segmento da indústria muito interessante é o de nanotecnologia. Existem pelo menos cinco grupos de pesquisas com reconhecimento nacional e internacional — aponta o especialista.

Robert Janssen, diretor-executivo da aceleradora de startups OBr.global, estima que sua empresa tenha impulsionado cerca de 90 novos negócios nos últimos quatro anos. Para o segundo semestre, está prevista a abertura de uma turma de 12 empreendimentos. Ele também destaca o ambiente universitário como um dos fatores que favorecem a cidade:

— O Rio de Janeiro é o maior berço universitário do Brasil. Tem mais vagas per capita que qualquer outro estado. E grande parte do berço da inovação está na universidade.

Nascida na PUC-Rio, a Docpad confirma essa tese. A empresa foi fundada em 2016, com foco na área de saúde. Quer ser a “Dropbox dos exames médicos”, organizando e armazenando informações para clínicas por meio de um aplicativo. O negócio já recebeu duas rodadas de investimentos — uma, de R$ 500 mil; e a outra, de R$ 200 mil. No ano que vem, a ideia é expandir o projeto para o perfil pessoa física. Carlos André Lucena, um dos fundadores, não descarta uma integração com a rede pública.

— Temos grandes players do setor no Rio, como hospitais e laboratórios. A cidade tem um bom cenário e ótimas perspectivas — afirma o empresário.

 

TURISMO E COMÉRCIO SÃO VOCAÇÕES

Se os bancos universitários são fontes de ideias, a melhora da educação também é oportunidade de negócios. Esse é o foco da Tamboro, especializada em cursos de desenvolvimento de habilidades voltados para jovens profissionais que usam a gamificação (técnica que utiliza mecanismos de jogos para aumentar o engajamento) como ferramenta de capacitação dentro de empresas.

Maíra Pimentel, diretora de operações e cofundadora da Tamboro, acredita que o espírito de cultura e arte ajuda no desenvolvimento desse tipo de negócio.

— Nós somos uma empresa de educação que usa o potencial da tecnologia para desenvolver habilidades comportamentais. É aí que está a diferença: a tecnologia acaba com as fronteiras, e conseguimos chegar rapidamente, com soluções, a locais remotos, com custo baixo e agilidade. No Rio, a cultura digital é muito forte e representa uma oportunidade legal para o começo de uma história nesse território — afirma a empresária.

Especialistas alertam, no entanto, que é preciso vencer gargalos para que o potencial de inovação do Rio seja alcançado e exemplos se multipliquem. Guto Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), considera que duas vocações naturais da cidade, o comércio e o turismo, poderiam ser exploradas de forma muito melhor.

— Em Lisboa, há grande apoio do governo para que as startups possam desenvolver novas tecnologias de apoio a turistas, como QR codes em cardápios de restaurantes que traduzem o menu para a língua do viajante. Na China, as startups ajudaram a fazer com que o celular se tornasse o principal meio de pagamento no comércio, em vez dos cartões de crédito. Aqui, no Brasil, há investimentos equivocados. Lá fora, são feitas apostas com previsão de retorno de seis a sete anos. O brasileiro pensa em conseguir retorno num período de seis meses a um ano. É um planejamento amador — critica Ferreira.

Flávia Bendelá, professora do Núcleo de Inovação do Ibmec-RJ, concorda, mas observa que há novos programas de empresas que voltam a fomentar o empreendedorismo:

— O Rio tem uma vocação para o turismo que não é bem explorada, assim como um movimento de fintechs. Nesse contexto, é muito interessante a Lei de Inovação do Rio, que está em discussão e cria novos mecanismos de incentivo para os setores de inovação e economia criativa. Segundo um relatório da ONG Endeavor Brasil, em um ranking de empreendedorismo, a cidade do Rio passou do 14º lugar, em 2016, para a 6ª posição, no ano passado. Isso já reflete uma mudança na infraestrutura. Somos líderes em inovação no país, e essa condição é importante.

Já Túlio Severo, diretor do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), destaca a importância de um marco regulatório:

— Falta uma lei que venha do mercado. Não pode ser fabricada pelos legisladores, é preciso ter um pacto pela inovação.

A ideia é que o ambiente se torne favorável para a criação de negócios, explica Marcus Quintella, coordenador do MBA de Empreendedorismo e Desenvolvimento de Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas. Em um ambiente saudável, segundo ele, valerá sempre a melhor ideia:

— São milhares de pessoas tentando inovar, em uma verdadeira corrida. No final, assim como em um mercado mais tradicional, destacam-se as iniciativas que facilitam a vida de alguém, que atendem a uma necessidade de mercado. Para ter sucesso, não há uma única receita ou segredo, ele vai variar de acordo com o marketing e uma série de outros fatores. As pessoas acham que a internet é mágica, mas dá muito trabalho. Aqueles que se destacam são os que conseguem insistir e criam uma confiança no mercado.

Link para a matéria: https://oglobo.globo.com/rio/seminario-reage-rio-debate-conceito-de-cidade-inteligente-22800367

 

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