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Como um empreendedor deve escolher a aceleradora ou incubadora para seu projeto?

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Como um empreendedor deve escolher a aceleradora ou incubadora para seu projeto?

Primeiramente, é importante esclarecer que o modelo adotado para promoção do rápido crescimento de empresas iniciantes (startups), a aceleração, tem uma aderência maior para startups de base tecnológica, uma vez que se utilizam da internet para conquistar clientes de maneira viral. Por essa razão, é raro ver uma startup de base tecnológica ser bem-sucedida a partir de um ambiente isolado. Cada vez mais, os empreendedores e projetos que alcançam sucesso durante a jornada conseguem se conectar com redes de parceiros e outros tipos de organizações que facilitam o crescimento comercial.

Ao mesmo tempo, esses mecanismos de aceleração e incubação de startups também são modelos em evolução, o que acaba dificultando ainda mais o processo de seleção por parte do empreendedor. Ele se depara com o desafio de reconhecer qual aceleradora ou programa mais se encaixa com a proposta de valor que deseja oferecer ao mercado. Tipicamente, no Brasil, os empreendedores buscam primeiro alguém para investir, esquecendo de validarem antes a aderência da proposta de valor com a demanda ou oportunidade de mercado, e selecionar uma aceleradora que possa preencher as lacunas consideradas críticas à tomada de decisão, inclusive onde investir recursos.

Noventa por cento das startups no Vale do Silício fracassam por não observarem de início a necessidade de balizar suas ações com a fundamentação em fatos apurados, através de pesquisas quantitativas e qualitativas do perfil e características do cliente alvo. Essa falta de sustentação de um plano de ação com base em dados e fatos, frutos de pesquisa e estudo mínimo de viabilidade, também ocorre no processo de escolha da aceleradora que ajudará no desafio de viabilizar a sua proposta de valor. O empreendedor normalmente se entusiasma pelas histórias que ouve e não faz o dever de casa, que é o levantamento de informações para qualificarem e conectarem os benefícios que cada uma, incubadora ou aceleradora, oferece com as necessidades que o seu projeto tem.

Assim, destacamos os cinco principais fatores de seleção de programas de aceleração e aceleradoras com base nas suas propostas de valor e foco de atuação, conjugados com as necessidades mais preeminentes do seu projeto. Esses cinco fatores recomendados baseiam-se em alguns estudos recentes realizados na América do Norte, somados com uma interpretação “tropical”, de forma a dar maior relevância para a maturidade percebida do atual estágio do ecossistema de empreendedorismo no Brasil.


INTRODUÇÃO

Quais fatores o empreendedor deve adotar para escolher uma aceleradora que ajudará no seu rápido crescimento? Este artigo utiliza as descobertas feitas por Diane A. Isabelle, professora de Internacionalização, Empreendedorismo e Marketing do Sprottd School of Business da Carleton University, Canadá, para destacar os insights, com base na prática, que podem ajudar os empreendedores a escolherem seu parceiro de aceleração.

No mundo cada vez mais digitalizado em que vivemos, governos de todo o mundo já entenderam que precisam criar programas estruturados de aceleração e incubação de negócios iniciantes para continuarem gerando emprego e renda, e promoverem o desenvolvimento econômico. Hoje, há evidências de que empresas iniciantes apoiadas por programas de aceleração têm uma taxa de mortalidade bem menor e, assim, mais chances de consolidação no mercado.


INCUBADORAS OU ACELERADORAS?

A associação internacional de Business Incubation define a incubadora como uma plataforma de suporte a negócios que acelera o desenvolvimento bem-sucedido de empresas iniciantes (startups), através de uma oferta de serviços e recursos específicos para o rápido desenvolvimento empresarial. A primeira incubadora surgiu em 1959 em Batavia, Nova York, mas foi somente nos anos 70 que se popularizou e passou a ser quase um componente obrigatório nas universidades e iniciativas governamentais.

Especialmente na última década, um novo modelo de assistência para startups de base tecnológica, as aceleradoras, surgiu pela necessidade de prover maior rapidez no retorno dos investimentos realizados. Por essa razão, também são conhecidas como Venture/Seed Accelerators. Tipicamente, aceleradoras e programas de aceleração têm um foco mais específico no crescimento empresarial e na conquista de clientes e mercado. Enquanto incubadoras, trabalham com um horizonte de tempo mais longo e oferecem serviços dentro de uma relação de apoio e foco de sustentabilidade. As aceleradoras focam em produto, mercado e tração, e normalmente tem uma relação na qual, em troca do apoio de aceleração, elas pegam equity.


OS 5 FATORES MAIS IMPORTANTES QUE O EMPREENDEDOR DEVE CONSIDERAR AO ESCOLHER O PARCEIRO DE ACELERAÇÃO / INCUBAÇÃO

Os fatores aqui apresentados são resultados da avaliação e interpretação de dados arrecadados em dois estudos diferentes realizados nos últimos dois anos. Um estudo foi realizado por Diane Isabelle no Canadá e conduzido através de entrevistas presenciais. O segundo foi realizado por uma associação internacional de Business Innovation com 235 respondentes de várias regiões da América do Norte.


Os cinco fatores que os empreendedores devem considerar são:

  • Estágio de maturidade da startup: uma startup ainda no estágio inicial da ideia terá necessidades bem específicas resultantes dessa realidade, muito diferentes daquelas de uma startup já fracionada com vendas no mercado. Muitas vezes, o modelo de uma incubadora pode ser mais adequado para as empresas que ainda estão na fase do ideation. Uma aceleradora tem critérios de seleção que normalmente conjugam tração de mercado, diferencial tecnológico e potencial para escalar o negócio, o que ainda não está presente nas startups que se encontram na fase da ideia.

Entretanto, as respostas da pesquisa demonstraram que ainda existe muita confusão no entendimento das diferenças entre aceleradora e incubadora. Por isso, aconselha-se ao empreendedor focar-se no cruzamento dos serviços de suporte e redes que especificamente conectam as suas necessidades, e não no rótulo ou posicionamento que adota.

  • Alinhamento de missão, valores entre startup e aceleradora: incubadoras e aceleradoras são mais bem-sucedidas quando conseguem alinhar sua missão e valores com a vocação natural das regiões onde estão inseridas. Consequentemente, também as startups. Por isso, é imperativo aos empreendedores conhecerem bem a missão, os valores e os focos de atuação das aceleradoras/incubadoras. Porém, a proliferação e diversidade de operações, que acabam tendo um posicionamento híbrido, tornam ainda mais difícil para os empreendedores definirem as melhores alternativas. Isso se agrava mais quando grande parte dessas operações de aceleração e incubação ainda está em fase inicial de amadurecimento, enquanto outras estão mais avançadas na sua consolidação no mercado.

Além de verificar a missão, os valores e o foco de atuação das aceleradoras/incubadoras, os empreendedores devem prestar atenção na reputação de mercado dessas organizações que estão considerando. Medidas de desempenho como eficácia gerencial, efetividade, taxas de ocupação, número de clientes, e medidas externas como taxa de mortalidade, empregos criados, investimentos externos conquistados, royalties coletados e valuation das startups oferecem medidas de avaliação de desempenho.

Agora, alguns desses dados (KPI’s) podem não estar disponíveis. Algumas aceleradoras podem ainda não ter uma “graduada” investida. No final, a reputação de uma aceleradora ou incubadora é crucial para a tomada de decisão, pois pode automaticamente aumentar a visibilidade da startupo que certamente ajuda a atrair investimentos, recursos e talento.

  • Política de seleção e graduação: incubadoras e aceleradoras, quando selecionam as startups, aplicam critérios que carregam seus valores e foco de atuação. Além desses critérios, empreendedores devem estar cientes de que o fator “Treinabilidade” (coachability) tem sido aplicado por grande parte das organizações. Em especial as aceleradoras, devido ao seu modelo, também examinam o potencial de rápido crescimento (escalabilidade), composição e experiência da equipe, possíveis protótipos existentes, propriedade intelectual e oportunidades de mercado.

Quando uma startup conclui um programa de aceleração ou sai de uma incubadora, diz-se que a mesma “graduou”. Contudo, há diferenças nas políticas de “graduação” entre diferentes aceleradoras e incubadoras. Tipicamente, uma startup “gradua” quando a aceleradora ou incubadora deixa de agregar valor, quando a startup cresce além do espaço que ocupa, ou o tempo predefinido se concluiu. Porém, parece existir uma flexibilidade na aplicação dessas políticas, de acordo com pesquisas realizadas e, atualmente, a grande maioria adota o critério de nível de crescimento e desenvolvimento das startups.

Graduação para as aceleradoras é diferente. Normalmente fazem valer os períodos predefinidos nos programas de aceleração, uma vez que trabalham com grupos que passaram por um processo de seleção coletivo e depois foram acelerados em forma de turma. Uma das constatações feitas nos estudos é que boa parte dos respondentes acredita que esses programas tendem a se focar somente na etapa final, o “Demo Day”. Outros percebem que a aceleração deve ser uma continuidade da graduação da incubação.

  • Natureza e alcance dos serviços prestados: incubadoras e aceleradoras oferecem aos empreendedores uma grande variedade de serviços e recursos, mas os estudos apontaram as 5 principais: i) acesso a recursos físicos, ii) suporte de espaço (escritório), iii) acesso a recursos financeiros, iv) suporte direto aos empreendedores, e v) acesso a redes de contatos relevantes. Porque o foco de aceleradoras e incubadoras é justamente em realizar uma aceleração, organizações com menos de quatro desses serviços tecnicamente não deveriam ser consideradas incubadoras. Os respondentes dos dois estudos consideraram os seguintes serviços como mais importantes: i) espaço físico, ii) ajuda com o básico para formar uma empresa, iii) assistência no marketing, iv) comercialização de tecnologias, v) conexões para parceiros estratégicos e acesso a investidores.

São fatores importantes a sustentabilidade financeira da aceleradora/incubadora e os patrocinadores da iniciativa. Nos últimos anos, com as diferentes crises econômicas nas diversas regiões, muito do apoio governamental e de agências de fomento diminuiu, criando enorme pressão para os gestores, e fazendo com que dedicassem mais tempo para buscar novos caminhos de financiamento, em detrimento do tempo que seria investido no crescimento das startups.

Com isso, os empreendedores devem procurar entender o modelo operacional da aceleradora/incubadora em mais detalhes. Onde conseguem financiamento para a operação? Quando esse mecanismo de funding se encerra? Existem ameaças para o modelo atual de financiamento? Qual o tempo total disponível que os gestores conseguem se dedicar para a evolução de crescimento das startups?

Uma tendência recente é a expansão do tempo e dedicação por parte das aceleradoras, estimuladas pelo fato de algumas startups demonstrarem evolução contínua e chances de atingir as metas para seguirem para as próximas etapas da evolução empresarial, com isso alongando os prazos de engajamento e comprometimento com a aceleração. Outra tendência causada por essa continuidade é o surgimento de um modelo híbrido entre acesso a recursos físicos e acesso a outros recursos através de uma plataforma virtual.

  • Redes de parceiros: um dos componentes mais críticos para as incubadoras e, em especial, as aceleradoras com foco na tração de mercado, são as redes de parceiros. As redes dos advisors, mentores, “entrepreneurs in residence”, parceiros corporativos e provedores de serviços complementam a plataforma de serviços voltados para gestão de programa e espaços oferecidos. Muitas incubadoras e aceleradoras, por exemplo, montam consórcios de prestadores de serviços nas áreas de “back office”, como assessoria jurídica, contabilidade, gestão financeira, e outras.

Essas redes funcionam como “propulsores” e “combustível” para o processo de aceleração de tração nos mercados alvo. Chamamos de “propulsores” os parceiros externos que fazem a conexão direta com o mercado via suas redes de canais e clientes corporativos. E chamamos de “combustível” os advisors e, em especial, os mentores. Adotamos essa diferenciação, pois uma startup consegue progredir sem uma turbina propulsora, de forma mais devagar, mas consegue manter o movimento progressivo. Entretanto, sem combustível nenhum veículo chega a algum lugar. A rede de mentores, tanto aqueles com foco mais abrangente no desenvolvimento empresarial (horizontais), como os com foco em conhecimento notório em alguma indústria específica (verticais), funcionam como esse combustível.

Dentro da visão de redes múltiplas, o empreendedor deve verificar também quais são as redes e os grupos de investidores que estão conectados com a aceleradora ou incubadora, pois uma importante função da aceleradora é justamente conectar os empreendedores com as possibilidades de investimento para dar continuidade ao seu crescimento empresarial. Portanto, além de os empreendedores deverem sempre buscar conhecer as redes de advisors, mentores e investidores que estão conectados à aceleradora e incubadora, precisam também entender qual é o tipo de relacionamento mantido entre a aceleradora e incubadora com os integrantes dessas redes de advisors e mentores. Eles estão disponíveis em tempo integral? Eles são pagos para realizar essa assessoria? Qual o track record de realizações que esses advisors e mentores tem, dentro dos segmentos de atuação e proposta de valor sendo oferecidos pelos empreendedores?

 

CONCLUSÃO

Em todo o mundo, aceleradoras e incubadoras são percebidas como mecanismos vitais para a promoção da inovação e do desenvolvimento econômico sustentável. Mesmo com a existência de desafios na adoção de padrões compartilhados de avaliação de sucesso nas diferentes iniciativas, fica cada vez mais evidente que as iniciativas e os projetos que conseguem ser acelerados têm maiores chances de sobrevivência no futuro.

Como conclusão, para decidir na escolha de um parceiro de aceleração, um empreendedor deve considerar o seguinte:


Estágio de maturidade:
 incubadoras parecem ser mais adequadas para as startups ainda na fase da ideia, enquanto startups já com tração combinam mais com as aceleradoras, devido ao melhor aproveitamento.


Alinhamento das necessidades do empreendedor com a missão, objetivo e foco de atuação:
apesar do aumento crescente das opções a cada semana, empreendedores devem prestar atenção às suas necessidades de curto e longo prazo e ter certeza do alinhamento com a aceleradora ou incubadora.


Política de seleção e graduação:
 os empreendedores devem verificar o grau de flexibilidade existente na aplicação dessas políticas.


Natureza e alcance dos serviços prestados:
 os empreendedores devem fazer um cruzamento detalhado das necessidades preeminentes que seu projeto tem, com os serviços oferecidos pela aceleradora ou incubadora e sua capacidade de disponibilizá-los no momento necessário.


Redes de parceiros:
 empreendedores devem buscar uma variedade de serviços de suporte (ou seja, jurídico, regulatório, técnico, propriedade intelectual e finanças).
O conceito de incubadoras e, principalmente, aceleradoras é relativamente novo no Brasil, e em franco desenvolvimento. Portanto, existe a necessidade de maior análise das suas operações e efetividade. Tem sido dado muito foco às iniciativas digitais (TIC) e outras consideradas de acesso a mercado de curto prazo. Assim, sabe-se pouco sobre outras iniciativas consideradas de acesso a mercado de longo prazo, como é o caso dos projetos de biotecnologia e áreas correlatas.

Ainda são oferecidos poucos serviços de internacionalização das startups.

 

 

Para mais informações sobre a imersão de uma semana no Vale do Silício com a OBr, acesse: https://obr.global/siliconvalleyux/.
Para mais informações sobre o programa de aceleração da OBr, acesse: https://obr.global/posicionamento/

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